António Costa quer uma Lisboa com mais estrangeiros que Portugueses

Junto ao memorial colocado pela comunidade israelita de Lisboa no centro do Largo de São Domingos, frente à igreja do mesmo nome onde, rezam as crónicas, se iniciou na Páscoa de 1506 a matança dos cristãos novos que havia de empilhar entre 2000 e 4000 corpos nas fogueiras acesas ali ao lado, no Rossio, António Costa celebrou, no seu discurso, "a tolerância como fundamento da coesão social" e "Lisboa como uma cidade multicultural, vibrante e criativa", concluindo: "Queremos ser herdeiros da Lisboa dos Descobrimentos, onde eram mais os estrangeiros que os naturais, e onde viviam pacificamente cristãos, judeus e muçulmanos". A avaliar pelo Largo de São Domingos na manhã de ontem, problema nenhum na convivência, que também inclui os laicos, representados ao mais alto nível por Mário Soares, actual presidente da Comissão de Liberdade Religiosa - mesmo se para além dos elementos da PSP presentes se distingue um contingente de segurança da comunidade israelita, seis ou sete homens de auricular que atraem a curiosidade dos jornalistas mas recusam prestar qualquer esclarecimento. Esther Mucznik, representante da Comunidade Israelita de Lisboa e uma das protagonistas do movimento que em 2006, na comemoração, neste mesmo largo, dos 500 anos do massacre, lançou a ideia do memorial que a Câmara de Lisboa havia de aprovar quase dois anos depois, reconhece, num sorriso significativo, que nas cerimónias da comunidade "há sempre segurança".
Adaptado do DN