terça-feira, 4 de outubro de 2011

Fonte Luminosa não funciona há quatro anos

«Acho que as pessoas já nem notam, habituaram-se a ver a fonte seca», diz Janardan Kitricant, atrás do balcão do quiosque da Alameda Dom Afonso Henriques.
Ele próprio, que cresceu naquela zona de Lisboa, «raramente» se lembra, aos 32 anos, do tempo em que a Fonte Monumental, inaugurada em 1948, formava cascatas o dia inteiro. «Quando a temperatura subia, até tomávamos banho nos repuxos», conta o jovem, lamentando o «estado» em que o sítio se encontra.

Desde 2007 que a Fonte Monumental, ou Luminosa, como é mais conhecida, está desactivada. Isto apesar de, em 2005, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) ter investido 1,2 milhões de euros na sua recuperação, prometendo devolver o monumento à cidade. O Executivo de António Costa promete fazer o mesmo, e já anunciou um novo investimento de mais de um milhão de euros.

Rosária Tomé, que passou 22 dos seus 59 anos naquela zona, nunca se habituou «à sujidade constante», à falta das cascatas e ao vandalismo que culminou na desactivação há quase quatro anos. E não se conforma: «Até a relva está maltratada. Vejo os turistas a aproximar-se para tirar fotografias, a olhar… Este é um monumento histórico da cidade, devia ser tratado como um ex-líbris».

Mas só agora, depois do alerta do movimento Fórum Cidadania Lisboa – que utilizou a Fonte Luminosa como «paradigma» do «esquecimento» a que a maioria dos equipamentos públicos da capital têm estado votados –, a CML aprovou, no final de Junho, uma proposta para reabilitar o monumento.

Sistema hidráulico vai ser substituido

Orçada em 1,072 milhões de euros, a recuperação da Fonte deverá avançar «dentro de um mês», prevê ao SOL José Sá Fernandes, vereador do Urbanismo da CML, adiantando que o projecto tem um prazo máximo de execução de oito meses.

«Já recebemos várias propostas para adjudicar a obra. Num mês, a fase do concurso público deverá estar concluída», explica o vereador, garantindo que a Fonte Luminosa voltará a funcionar em 2012.

A verba, financiada pelo Plano de Investimentos Prioritários em Reabilitação Urbana, soma-se assim ao montante investido naquele espaço público há apenas seis anos. A intervenção foi na altura classificada pela CML como um investimento que pretendia «contribuir para recuperar a dignidade exemplar» de «um ponto singular» da cidade.

«A Câmara só se interessa pela fonte em época de eleições», comenta Rosária Tomé, que fez parte de um grupo cívico que, em 2005, pressionou a CML para reabilitar «este espaço maravilhoso».

O investimento feito na altura contemplou – além da recuperação do sistema eléctrico, da arquitectura original e dos baixos relevos do escultor Jorge Barradas, encomendados pelo Estado Novo – a construção de um restaurante no terraço, que nunca chegou a avançar. Bastou um ano para que a fonte, cuja classificação por parte do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico «está em estudo», segundo Maria Lucas, passasse a funcionar apenas em dias específicos ou, por vezes, durante a noite. «Só era ligada aos fins-de-semana, recorda outro morador., alertando: «Aí há uns cinco meses acabaram por roubar os espigões de cobre por onde a água era jorrada».

A obra, que deve finalmente avançar, tem agora como principal objectivo, diz Sá Fernandes, a «substituição de todo o sistema hidráulico», que, explica o vereador, nunca sofreu intervenções. (SOL)

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