segunda-feira, 29 de junho de 2015

Lisboa em 2020. O futuro é mais verde mas não escapa às grandes obras

Jardim da Cerca da Graça

São quase dois hectares de verde, com um quiosque, uma esplanada, um pomar e um parque infantil. O Jardim da Cerca da Graça abriu este mês e veio unir a Baixa de Lisboa ao bairro da Graça. Quem aprecia a paisagem não imagina que o espaço já fazia parte dos planos do vereador Sá Fernandes desde 1995 quando, ainda sem responsabilidades autárquicas, escreveu uma carta à câmara a pedir um jardim para aquele terreno. O projecto foi aprovado em 2009 pelo executivo e o final das obras chegou a estar anunciado para 2011. Os trabalhos só começariam, afinal, em 2013, com sucessivas paragens na empreitada que levaram a que a inauguração acontecesse há pouco mais de uma semana. Nesse dia, Sá Fernandes não escondeu a satisfação por ver concluída uma obra pela qual lutava há 20 anos. Trata-se de “um jardim público onde ele mais falta fazia”, defendeu.

Terraços do Carmo

Com a inauguração do Miradouro dos Terraços do Carmo, a Câmara de Lisboa deu por concluído o plano de recuperação do Chiado, quase 27 anos depois do incêndio de 1988. A construção deste jardim suspenso, da autoria do arquitecto Siza Vieira, teve um custo total de cerca de dois milhões de euros e foi financiada com verbas do município e também do Turismo de Portugal. Além de fazer ligação entre o Largo do Carmo e a Rua Garrett, é através deste novo jardim que se poderá ter acesso às ruínas do convento do Carmo. No mesmo dia – 10 de Junho –, a autarquia inaugurou o Elevador de Santa Luzia, que liga a Rua Norberto Araújo, em Alfama, ao Miradouro de Santa Luzia, acabando com um desnível de cerca de 15 metros.

Museu dos Coches

Mesmo no dia da inauguração, a obra que já devia estar acabada há dois anos estava ainda longe de funcionar em pleno. Mas não se podia fugir ao 23 de Maio deste ano, exactamente 110 anos depois de a rainha D. Amélia ter criado a instituição.
O museu, que custou 40 milhões de euros, tem um orçamento anual que ascende a 2,7 milhões de euros, dos quais 500 mil virão directamente do Estado. Está previsto que o dinheiro que falta venha do apoio da Fundação Millennium BCP e da receita das bilheteiras (visitar o novo museu custa seis euros). Com uma estimativa de 350 mil visitantes por ano, teve um início em grande, com quase 20 mil entradas no primeiro fim-de-semana. Se no dia da inauguração ainda não havia biblioteca, cafetaria ou restaurantes, agora conta já com uma geladaria Santini, que teve até honras de abertura com a presença de Cavaco Silva, vizinho do novo espaço.

Ribeira das Naus

Com os dias de calor, é ver centenas de lisboetas a aproveitar a brisa à beira- -rio e os turistas, normalmente mais arrojados, a fazer da relva uma praia com direito a trajes de banhista. A inauguração foi há quase um ano, mas os ajustes foram-se fazendo, assim como foram chegando os negócios de quiosques e carrinhos de street food. Com todos os elementos a colaborar – pessoas, refrescos e sol –, está feito um dos locais mais in da cidade e que conseguiu cumprir o seu objectivo inicial: “devolver o rio Tejo às pessoas”, slogan várias vezes usado pelo anterior presidente, António Costa.
A requalificação total da Ribeira das Naus representa um investimento total de cerca de 10 milhões de euros, dos quais 6,5 milhões do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN).

Corredor verde

Ninguém pode negar que Lisboa está mais verde e para essa constatação contribuíram a inauguração de novos jardins e miradouros, a renovação de árvores e a abertura de mais corredores verdes. Reflectido em números, o aumento dos espaços verdes é já de 345% desde 2007, resultado da intervenção em mais de 50 hectares. Este mês, o vereador da Estrutura Verde, José Sá Fernandes, anunciou que a capital vai ter aquele que será o corredor verde “mais espectacular da Europa”, com ligação entre Monsanto e o Rio Tejo, mais concretamente com fim marcado na Praça 25 de Abril, em Marvila. Os quilómetros que vão passar, por exemplo, pelas Avenidas Duque d’Ávila e Rovisco Pais, vão ter hortas, parques infantis, parques de skate e vinhas em toda a sua extensão.

Novos hotéis

Camas e quartos para dormir em Lisboa não faltam. Os números facultados ao i pelo Turismo de Lisboa mostram que no ano passado abriram 12 novas unidades hoteleiras e só este ano já se juntavam mais nove. Mesmo assim, projectos para o futuro não faltam e a câmara aprovou já a criação de quatro novos hotéis e a ampliação do Bairro Alto Hotel, no Largo Camões. Sem sair do Chiado, os lisboetas vão ver nascer mais uma unidade de cinco estrelas na Rua António Maria Cardoso. Já mais próximo do Marquês de Pombal, está prevista a abertura de um hotel na Duque de Loulé e outro na Rua Duque de Palmela. O quarto edifício vai nascer na zona histórica da cidade, com a alteração e ampliação de um estabelecimento na Rua de Santiago, junto à Sé, que vai passar a ser de cinco estrelas.

Pavilhão Carlos Lopes

O Pavilhão Carlos Lopes, construído na década de 1920 para celebrar o 100.o aniversário da independência do Brasil, foi encerrado por falta de condições de segurança em 2003. Desde então foram pensadas várias alternativas para o espaço de propriedade municipal, situado no Parque Eduardo VII, mas nenhuma passou do papel. Tudo parecia estar finalmente resolvido com a decisão da autarquia de entregar o pavilhão ao Turismo de Portugal, que aí pretendia realizar eventos culturais, artísticos e desportivos. Esta semana, porém, o vereador do Urbanismo garantiu que o espaço não pode ser subconcessionado a privados, mesmo com a cedência à Associação de Turismo de Lisboa por 50 anos. O assunto vai ser agora apreciado pela assembleia municipal.

Feira Popular

O ano de 2003 foi o último de diversão na Feira Popular. A partir do seu encerramento, começou a tormenta. Com Santana Lopes na presidência da autarquia, deu-se início a uma permuta de parte dos terrenos da Feira Popular, então propriedade da câmara, pelos do Parque Mayer, que pertenciam à Bragaparques. Em 2014, a assembleia municipal autorizou a câmara a pagar cerca de 101 milhões de euros à Bragaparques para a aquisição dos terrenos, que foram agora postos à venda por 135,7 milhões de euros. Agora, e por sugestão do PCP, a proposta de alienação dos terrenos foi alterada para garantir que pelo menos 20% do que for construído no local se destine a habitação. O resto do espaço será usado para comércio, serviço, turismo e espaços verdes, sendo previsto que os dois primeiros ocupem uma área não inferior a 60% do total.

Santa Apolónia

Em 2008, Manuel Salgado garantia que a desactivação da Estação de Santa Apolónia não estava “nem pouco mais ou menos” nos planos da autarquia. Hoje, o discurso é outro e o vereador pôs o assunto em debate, com a proposta de desactivação do terminal ferroviário, que dará lugar a um jardim. Apesar de polémica, a ideia não é nova. Já em 2008, quando foi lançado o projecto de ampliação da Estação do Oriente, o então presidente António Costa defendeu que devia ser equacionada a desactivação de Santa Apolónia para que fosse transformada num terminal de cruzeiros. O vereador vê agora como “visão de futuro” o encerramento da gare para dar lugar a um espaço verde com ligação ao Tejo. Ao i, o vereador Sá Fernandes mostrou-se um apoiante da ideia e acredita que o edifício não será demolido, traçando até três dos destinos possíveis: hotel, centro de congressos ou edifício de apoio aos cruzeiros. As linhas férreas, essas, serão desactivadas, mas avança a hipótese de uma delas poder ser usada para prolongamento do metro.

Torre de escritórios na Fontes pereira de melo

Pensar que o edifício mais alto do mundo tem 828 metros e 163 andares faz do Hotel Sheraton – o mais alto de Lisboa – quase uma anedota. Com uns modestos cem metros de altura e 26 andares, o hotel está em vias de ganhar um vizinho que, apesar de arrojado para a construção standard lisboeta, ainda não representa perigo no que toca a recordes de altura. A Câmara de Lisboa aprovou a construção de uma torre de escritórios na Avenida Fontes Pereira de Melo, no Saldanha, com 17 andares. A área de intervenção do projecto abrange quatro prédios urbanos, nos números 39, 41 e 43 da Avenida Fontes Pereira de Melo e no número 2 da Avenida 5 de Outubro. O edifício vai ter quase 68 metros de altura e um parque com seis pisos de estacionamento subterrâneo, com capacidade para 194 lugares de estacionamento privativo e 49 de uso público.

Parque de estacionamento no Campo das cebolas

A Câmara de Lisboa aprovou há um ano o projecto para construir um parque de estacionamento no Campo das Cebolas, gerido pela EMEL, com capacidade para 230 lugares. Apesar de as obras ainda não terem começado, o plano de actividades da empresa municipal para 2015 prevê um total de investimento de 24 milhões de euros, dos quais 2,8 milhões dizem respeito à construção deste parque, dando conta até de um aumento do número de lugares para 260. Mais uma vez, essa proposta também não é novidade nos debates municipais: a autarquia já tinha aprovado a construção de um silo automóvel de quatro pisos, um deles subterrâneo, mas acabou rejeitado em assembleia municipal por todos os partidos da oposição.

Palácio da Ajuda

As obras previstas para o Palácio da Ajuda prevêem não só a recuperação da fachada do edifício como também a instalação, em permanência, das jóias da Coroa Portuguesa. No final do ano passado, o secretário de Estado da Cultura, Barreto Xavier, referiu que pretende utilizar para esta requalificação os 4,4 milhões de euros do seguro das jóias da Coroa, roubadas em 2002 quando saíram de Portugal para uma exposição na Holanda. O Palácio da Ajuda, assim como a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos ou o Museu dos Coches, fazem parte de um eixo de Lisboa que conta agora com uma estrutura que tem como missão elaborar o Plano Estratégico Cultural da Área de Belém. António Lamas, presidente do CCB e agora também coordenador deste plano, há muito que tem vindo a apresentar ideias de transformação daquela zona ribeirinha. Entre elas, e das mais polémicas, está a proposta de enterramento da linha de comboio que separa a zona dos monumentos do rio. Está previsto que o plano seja entregue à tutela nos próximos dois meses. (I)

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