Lisboa é a cidade com maior registo criminal no país. Os autores de crimes têm entre 16 e 21 anos.
A palavra "prevenção" foi a mais repetida no seminário Violência de Rua, ontem organizado pelo Efus-Fórum Europeu para Segurança Urbana, em Lisboa. Segundo dados do Pordata, registaram-se cerca de 203 mil crimes, em 2011, na área de intervenção da PSP, mais de o dobro de há 20 anos (cerca de 82 mil). Apesar do brutal aumento nas últimas duas décadas verificou-se uma diminuição dos registos criminais. Os bairros sociais continuam a ser um dos principais pólos de origem de problemas e conflitos que acabam por gerar crimes.
Dados da PSP mostram que em Portugal a concentração de crimes é tão grande que só os distritos de Lisboa, Porto e Setúbal concentram 50% da criminalidade em todo o país. O distrito menos afectado é Portalegre. "No caso concreto de Lisboa temos pessoas muito frágeis, neste caso os mais velhos", aponta Guilherme Pinto, presidente do Efus. "A zona da Baixa/Chiado, que pensávamos ser perigosa hoje, já não o é. As zonas mais perigosas situam-se na zona de Alvalade", afirma a mesma fonte, também presidente da Câmara de Matosinhos.
A violência de rua acontece maioritariamente através da acção de grupos juvenis, entre os 16 e os 35 anos, com a predominância do sexo masculino (cerca de 86% em 2011). Os crimes podem acontecer contra pessoas, contra o património, contra o Estado ou contra a integridade pessoal e identidade cultural.
Luís Fiães Fernandes, director do departamento de informações da Direcção Nacional da PSP, adianta que a maioria dos crimes praticados por jovens é contra o património, seguido do crime contra as pessoas. Apesar dos indicadores mostrarem que houve um decréscimo de criminalidade não significa que, na realidade, esteja a diminuir.
Paulo Machado, do departamento de Sociologia na Universidade Nova de Lisboa, explica que "à medida que a população vai envelhecendo o crime diminui, uma vez que aumenta a percepção de medo, tomando medidas de auto-prevenção, diminuindo a potencialidade dos alvos". Por outro lado, o refúgio dentro de casa cria fragilidades e espaços exteriores demasiado vazios, que, paradoxalmente, geram oportunidades para cometer crimes. "Se não progredirmos não é por falta de dinheiro, mas por falta de inteligência", considera o investigador.
Polícias de proximidade
Para neutralizar estas oportunidades da prática de crimes em zonas pouco habitadas , a Polícia Municipal de Lisboa apostou no policiamento comunitário, através de veículos eléctricos, que dão maior visibilidade aos agentes e facilitam a comunicação com os residentes. O programa foi lançado em 2007, na zona da Baixa, e estendido a Alvalade no ano seguinte. A próxima aposta é a zona da Alta de Lisboa. Também será feita uma nova divisão administrativa das áreas policiais em parceria com a Câmara de Lisboa.
Para o comandante da Policia Municipal do Porto, Leitão Silva, o problema remonta à deslocalização dos bairros sociais para a periferia "colocando a arquitectura e segurança ao arrepio uma da outra". Nuno Rodrigues, coordenador de um centro de reinserção social, defende que "quando um jovem age em grupo é mais difícil atribuir responsabilidades" e distingue características comuns dos autores dos crimes: provenientes de famílias disfuncionais, com sistema de crenças e valores subvertidos e inseridos em grupos problemáticos.
Por isso, o coordenador do centro educativo Navarro de Paiva, destaca que as soluções de prevenção e de acção com o internamento de jovens por delinquência juvenil devem ser feitas tendo em vista a criação de uma oportunidade no futuro centrada no seu contexto social e familiar pessoal. (Público)
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